Estúdio Móvel Experimental convidou o jornalista carioca Gilberto de Abreu, editor do blog Supergiba | Arte Contemporânea, para promover a divulgação do projeto no Brasil. A entrevista a seguir é a primeira realizada por ele sobre o nosso trabalho.
Gilberto de Abreu: Como surgiu a idéia desse projeto e por que a decisão de documentá-lo em fotos, vídeos, áudio?
Ivan Henriques: a idéia desse projeto começou no fim de 2007 com a formação do GEMA - Grupo Experimental Multidisciplinar Autônomo. Essas ferramentas são as mesmas que utilizamos na realização de nossos trabalhos individualmente. O GEMA tem arquitetos, urbanistas, engenheiros, produtores, músicos, artistas, etc.... E o EME faz parte dessa multidisciplinariedade, é o fruto desse Grupo que é liderado por mim e Silvia.
Como esses profissionais foram se reunindo? e qual critério foi adotado para seleção dos participantes?
Ivan Henriques: O critério foi que tivessem, e tenham, proximidade com arte, criatividade . Trabalhamos também com universidades. No último dia 10, por exemplo, fiz um workshop com os alunos do CEFET-RJ, voltado principalmente para alunos de engenharia mecânica e elétrica, pensando soluções auto-sustentáveis e tecnológicas para usar no EME.
De que forma o trabalho no Estúdio Móvel Experimental poderá ser visto pelo público? Os registros serão expostos, incorporados a trabalhos multimídia, ou estarão disponíveis na internet?
Silvia Leal: O Estúdio Móvel leva os trabalhos artísticos e a pesquisa multidisciplinar para um público muito maior, por viabilizar sua apresentação em lugares carentes em vários sentidos, sobretudo culturalmente. A tecnologia viabiliza a documentação e informação. Na internet, por exemplo, através de Blogs, social networks, chats, websites e outras mídias. O conceito de site-specific é importante. Estamos trabalhando justamente com as micro-políticas. Uma concepção macro, através de uma ação micro.
De que maneira o poder público recebeu a proposta do EME, e que tipo de resultado eles esperam obter de vocês?
Ivan Henriques: Estamos apresentando arte contemporânea em espaços onde isto não é contemplado. Existe também, no local, um trabalho de conscientização artística, histórico e ambiental, realizado por nós mesmos, a medida de nossa interação direta com o público.
E os moradores? Sentem-se surpresos pelo fato de um trabalho ambiental, e político, esteja sendo realizado por artistas?
Ivan Henriques: Estamos somando parcerias com instituições locais e estaduais para dar continuidade deste trabalho dentro de um contexto artístico e educacional.
Silvia Leal: Um de nossos entrevistados, um homem público, levantou interesse quando soube que este trabalho estava sendo dirigido por artistas, e patrocinado pela Secretaria de Cultura. A recepção tem sido muito positiva. Tanto das intervenções quanto dos workshops.
O que difere as intervenções dos workshops? Explique em linhas gerais a dinâmica de cada uma delas, e seus focos específicos?
Ivan Henriques: As intervenções não tem aviso prévio para o público. Simplesmente acontecem com a nossa chegada ao sítio (lugar) escolhido, nossa inserção nesse espaço e o começo de nossa negociação com seus agentes, o indivíduo que ali mora ou trabalha. O workshop é um trabalho para dar continuidade à nossa proposta. O foco dos workshops é a Baia de Guanabara como objeto de arte. O EME, por sua vez, se apresenta como uma plataforma aberta, onde construímos nossas discussões.
Por que a Mata Atlântica?
Ivan Henriques: Porque dela restam apenas nove por cento de seu ecossistema original.
Sendo este um trabalho em processo, como predeterminar as ações? Como incorporar e processar as novas informações?
Ivan Henriques: Existe uma predeterminação de intervenção urbana, em que cada artista participante exercite sua própria linguagem. A idéia inicial do projeto é que ela tenha uma continuidade. Conforme as atividades forem acontecendo, elas serão divulgadas no blog, alcançando também outras plataformas.
Silvia Leal: Na próxima semana, estaremos trabalhando em parceria com o pessoal da Universidade de Nottingham; Mixed Reality Lab e Active Ingredient (Inglaterra). Esta será a minha residência no Brasil. Enquanto isso, o Ivan estará atuando em outro país.
Qual a expectativa de vocês em relação à participação de estrangeiros no processo? Eles vêm com um olhar completamente virgem em relação ao site de trabalho, não?
Silvia Leal: Estamos trabalhando com esse grupo de estrangeiros, que conhecemos num evento chamado PARALELO, realizado em abril desse ano, e para o qual fomos convidados a apresentar o EME. Várias parcerias surgiram a partir deste encontro.
Onde aconteceu?
Ivan Henriques: No Museu da Imagem e do Som de São Paulo, e também no Centro Cultural São Paulo. Foi um evento promovido pelo British Council e pela Mondrian Foundation, dedicado à arte, ciência e meio-ambiente. Por conta dele, criamos o primeiro Light Bridge entre Brasil e Inglaterra.
O Que é um Light Bridge?
Silvia Leal: É um trabalho artístico, que traça uma "ponte" de luz entre Londres e Rio utilizando duas câmeras apontadas uma para a outra, aproveitando a rotação do planeta terra. Esse trabalho foi realizado com um cientista geoespacial Adrian Hughes do escritório Foster&Partners, em Londres.
Lightbridge film still
Em relação ao material audiovisual... É um registro documental ou existe nisso alguma proposta de linguagem?
Ivan Henriques: tanto documental quanto de linguagem. Eu, por exemplo, trabalho com som experimental, tocando junto ao Kuarasy O Berab.
Mas onde as câmeras se encontram? No meio do caminho? O que captam exatamente?
Silvia Leal: Captam a luz do sol nascendo primeiramente na costa da Inglaterra, em Selsey, terminando no Centro do Rio de Janeiro.
Esse é um trabalho paralelo ao EME, ou complementar a ele?
Ivan Henriques: Foi ao mesmo tempo paralelo e complementar. Um tipo de trabalho que ilustra possibilidades de parcerias a longa distância, algo que fazemos desde a fundação do GEMA.
Que outras articulações estão à caminho?
Ivan Henriques: Agora a situação está se invertendo. A Silvia fica no Brasil e eu vou fazer mestrado na Holanda. Desenhamos assim um triângulo Inglaterra, Brasil, Holanda.
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